quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

RESSACA

Por Paulo Alencar

Estou passando momentos acometido de uma terrível sensação que me deixa prostrado. Um estado de desânimo que me induz a não querer sequer sair da casca do ovo. Algo bem pior que o dia seguinte a uma avantajada carraspana. Algo que aflora em mim com um misto de decepção, desilusão, desencantamento e até certo ponto raiva. Já fiz de tudo para melhorar. Tentei incluir na minha rotina outras atividades. Pensei até adotar um rumo diferente para minha vida. Mas essa sensação que mais se assemelha a uma ressaca das brabas insiste em não me abandonar.
Para e eliminar um efeito nada melhor que atacar a causa, dizem. Daí eu passar a buscar o motivo que me conduziu a essa situação? E, depois de muito investigar a origem de tudo cheguei a uma simples conclusão: eu acreditei em Papai Noel. Fui mais além, acreditei também no Saci Pererê, no Curumim, Boto Cor de Rosa... É frustrante, mas acreditei com atroz intensidade que teríamos um processo eleitoral limpo, ou pelo menos com um baixo índice de corrupção. Acreditei mais uma vez na veracidade ou eficácia das mensagens embutidas numa exaustiva e dispendiosa propaganda patrocinada pela nossa justiça eleitoral. Caí no conto daquele alarmante pacote de medidas para reprimir as fraudes eleitorais, principalmente as tão propaladas compras de votos. Daí me sentir até agora tonto, doído, nauseado, numa reação a qual poderia intitular de ressaca eleitoral.
Nunca vi em minha vida política - seja como mero eleitor, candidato, ou simplesmente envolvido em alguma campanha de candidatos que me despertassem algum sentimento de confiabilidade, seriedade ou capacidade para a vida pública - um processo eleitoral onde o dinheiro falasse tão alto. Ameaçaram-se punições de toda sorte aos corruptores e corruptíveis. O que mais se ouvia era sobre a eficiente e séria presença da Polícia Federal. Falaram-se inclusive que haveria prisões de políticos e, pasmem, de eleitores. E o que se viu? É dispensável citar.
Todos tiveram conhecimento dos fatos e dos procedimentos onde a frase mais entoada foi - “eu ajudo a quem me ajudar”. Para ser mais claro – “vendo o meu voto”. E aqueles que dispuseram do farto meio para suprir a dolosa ganância dos eleitores, salvo raras exceções, se deram bem. Em outras palavras: os desprezíveis valores políticos continuaram, e até se proliferaram, baseados nas mais inconfessáveis artimanhas, para não se denominar, roubalheira. Políticos e eleitores, quase todos em uníssono e embalados pelas mesmas ondas da corrupção auspiciadas pelas vendas da justiça.
E para quem acreditou que algo poderia ter mudado para melhor não seria mais que justificável uma ressaca como esta?

Nenhum comentário: